A tecnologia promete facilitar a identificação de tumores malignos.
O câncer de pele, o mais comum no Brasil, pode ter diagnóstico facilitado pela inteligência artificial.
O câncer de pele é a forma mais comum da doença no Brasil e no mundo, com uma projeção alarmante de 704 mil novos casos entre 2023 e 2025, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Essa alta incidência torna crucial a identificação precoce de tumores, que enfrenta desafios significativos, como a falta de conhecimento da população e dificuldades estruturais no sistema de saúde.
Desafios no diagnóstico do câncer de pele
O câncer de pele pode ser classificado em dois grupos principais: os carcinomas e os melanomas. Os primeiros, que incluem o carcinoma basocelular e o espinocelular, são mais frequentes e menos agressivos, representando cerca de 30% dos casos no Brasil. Já o melanoma, embora menos comum, é mais letal se não tratado adequadamente. O diagnóstico tardio é um problema, frequentemente causado pela falta de conscientização sobre os sinais de alerta. Dermatologistas como Gisele Rezze e Marcelo Sato Sano destacam que muitas pessoas confundem lesões suspeitas com alterações normais, resultando em atrasos na busca por atendimento médico.
Além disso, a estrutura do sistema de saúde pública gera longas esperas para consultas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, há mais de 21 mil pessoas aguardando atendimento dermatológico pelo SUS. Em um inquérito realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, foi revelado que 58,3% dos diagnósticos de câncer de pele foram feitos no setor público, destacando a sobrecarga do sistema. Essa demora não apenas compromete a saúde dos pacientes, mas também aumenta os custos para o sistema de saúde, que acaba lidando com casos em estágios mais avançados da doença.
Como a inteligência artificial pode ajudar
Diante desse cenário, a inteligência artificial (IA) emerge como uma aliada na identificação precoce do câncer de pele. Um estudo brasileiro avaliou a eficácia do ChatGPT, modelo de linguagem da OpenAI, em diagnósticos clínicos, com uma taxa de acerto de 84%. Os dermatologistas, como Athos Martini, reconhecem o potencial da IA como uma ferramenta de apoio, embora ressaltem que ela não substitui a consulta médica. A evolução dessa tecnologia, como a recente atualização do ChatGPT para a versão 5.0, promete melhorias na precisão diagnóstica.
Algoritmos avançados de visão computacional têm demonstrado desempenho comparável ao de dermatologistas na identificação de lesões suspeitas. Um exemplo é um aplicativo desenvolvido no Brasil que utiliza IA e redes neurais para analisar lesões cutâneas a partir de fotos tiradas com smartphones. Essa ferramenta visa democratizar o acesso à triagem, especialmente em áreas com poucos especialistas disponíveis.
Resultados e benefícios da nova tecnologia
A IA Pathology, startup responsável pela criação do aplicativo, utilizou bancos de imagens de diversas instituições renomadas para treinar o algoritmo, alcançando uma taxa de acurácia de 93%. Além de ajudar na triagem, essa tecnologia pode otimizar a gestão de recursos na saúde pública. O Instituto do Câncer de Pele de Goiânia, por exemplo, relatou uma economia de mais de R$ 3 milhões em apenas quatro meses devido à detecção precoce de câncer, evitando tratamentos caros relacionados a diagnósticos tardios.
No entanto, é importante ressaltar que a IA deve atuar como uma etapa preliminar, e não como substituta da consulta médica. A tecnologia deve ser utilizada em parceria com instituições de saúde, evitando o fenômeno do autodiagnóstico, que pode ser perigoso. O aplicativo não fornece diagnósticos diretamente ao paciente, mas aciona um atendimento adequado conforme a gravidade do caso.
Perspectivas futuras para a inteligência artificial na dermatologia
Os especialistas concordam que a colaboração entre tecnologia e conhecimento humano é essencial. No futuro, a IA poderá desempenhar um papel crucial em tarefas específicas, mas a decisão final sobre diagnósticos e tratamentos continuará a ser responsabilidade do médico. A tecnologia aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para sua comercialização em larga escala e também está em processo de submissão ao Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos.
Essa validação é fundamental para a segurança dos dados dos pacientes e para definir responsabilidades em caso de erro. O uso combinado de IA e expertise médica pode representar um avanço significativo na luta contra o câncer de pele, buscando sempre a melhoria na detecção e no tratamento da doença.