Aumento na coleta de saruês pode refletir urbanização e maior conscientização da população
Coleta de saruês em São Paulo aumentou significativamente, refletindo mudanças na urbanização e na relação com a fauna.
Número crescente de saruês na cidade de São Paulo
O saruê, um marsupial nativo do Brasil, tem se tornado cada vez mais comum nas áreas urbanas de São Paulo. De acordo com dados do Cemacas (Centro de Manejo e Reabilitação de Animais Silvestres) da prefeitura, a coleta de saruês saltou de pouco menos de 1.400 em 2017 para quase 3.600 em 2024. Esse crescimento acentuado pode ser um indicativo do aumento na população desses animais ou, possivelmente, uma maior incidência de ocorrências que envolvem a interação entre humanos e saruês.
Fatores que contribuem para o aumento dos saruês
Marcello Schiavo Nardi, médico veterinário do Cemacas, sugere que o fenômeno pode estar relacionado ao processo de urbanização em São Paulo. À medida que novas áreas são desenvolvidas, os saruês se veem forçados a se aproximar das zonas urbanas, aumentando as chances de serem recolhidos. Além disso, a maior conscientização da população sobre a importância do manejo de animais silvestres pode ter contribuído para o aumento no número de recolhimentos.
“Antigamente, as pessoas não tinham conhecimento do nosso trabalho”, afirma Nardi. Essa mudança na percepção social sobre a fauna local é um dos fatores que pode ter levado ao aumento das notificações de saruês em situações de risco.
Características dos saruês e seu habitat
Os saruês são animais sinantrópicos, ou seja, se adaptam bem ao ambiente urbano, aproveitando restos de comida e lixo. Eles são pequenos, pesando cerca de um quilo, e seus hábitos são predominantemente noturnos. Embora esses marsupiais consigam sobreviver em áreas urbanas, eles dependem de espaços arborizados para se abrigar e se reproduzir.
Adriano Pinter, professor de doenças parasitárias da USP, explica que, enquanto os saruês se beneficiam da ocupação humana, eles necessitam de ambientes que ofereçam abrigo, como árvores. Algumas áreas de São Paulo, como o Parque do Ibirapuera, têm se mostrado favoráveis à recuperação desses animais.
Mudança na percepção da população
A relação entre os habitantes de São Paulo e os animais silvestres tem mudado nas últimas décadas. Segundo Pinter, até 1988, a caça de animais silvestres era permitida, mas hoje a população se mostra mais sensível e consciente em relação à fauna. A exemplo disso, as capivaras, que também se tornaram mais frequentes nas áreas urbanas. Essa mudança de atitude pode explicar o aumento no número de saruês recolhidos.
Gabriel Bitar, um animador gráfico que vive no Butantã, relata que seu contato com os saruês se tornou mais comum. Ele descreve os sons que esses animais fazem e como, em algumas ocasiões, eles invadiram seu espaço, demonstrando um comportamento curioso e cauteloso.
Preocupações com a saúde pública
Entretanto, a aproximação dos saruês aos ambientes urbanos também levanta preocupações sobre saúde pública. Pinter alerta que já foram encontrados saruês infectados com a Doença de Chagas em áreas como Butantã e Parque da Água Branca. Embora o vetor da doença, o inseto barbeiro, não esteja presente, a presença dos saruês como reservatórios da doença ainda representa um risco potencial.
A crescente presença dos saruês em São Paulo reflete uma complexa interação entre urbanização, mudanças na percepção social sobre a fauna e preocupações com a saúde pública. A adaptação desses marsupiais ao ambiente urbano é um fenômeno que merece atenção, tanto para o bem-estar dos animais quanto para a saúde da população.