Legado do negacionismo na política brasileira

Impactos da era bolsonarista no Congresso Nacional

O negacionismo se tornou um legado na política brasileira, afetando decisões no Congresso.

O negacionismo se tornou um legado na política brasileira, afetando decisões no Congresso. O governo Bolsonaro transformou o negacionismo em um eixo estruturante de sua ação política. Ao negar evidências científicas, relativizar consensos históricos e minimizar ameaças ambientais, não apenas governou sob uma lógica de desinformação, como consolidou um método que segue vivo na política brasileira. Mesmo após a mudança de governo, as marcas desse projeto permanecem evidentes no Congresso Nacional, influenciando pautas e dificultando avanços sociais e ambientais.

Ação política e negacionismo

Essa agenda não se limitou ao Executivo. Foi sustentada por uma base parlamentar coesa, composta por setores da bancada ruralista, representantes de interesses minerários e parte da bancada evangélica. Juntos, avançaram em projetos que afrouxaram o licenciamento ambiental, estimularam a exploração de terras indígenas e enfraqueceram a proteção legal de áreas sensíveis. A troca de governo não reverteu essa lógica de imediato. No Legislativo, a correlação de forças continua favorecendo pautas que fragilizam o meio ambiente.

A persistência da lógica negacionista

A dúvida sistemática sobre dados ambientais, por exemplo, segue sendo usada como justificativa para flexibilizar regulações e priorizar interesses econômicos de curto prazo. A persistência dessa lógica se apoia em dois pilares principais: a mobilização de afetos como medo e ressentimento contra grupos identificados como “inimigos” — ambientalistas, indígenas, cientistas, judiciário e jornalistas — e a convergência de interesses com setores econômicos que lucram com a erosão das proteções ambientais.

Desafios para a democracia

O negacionismo, enquanto estratégia de poder, corrói a capacidade do sistema democrático de responder a crises. Ao enfraquecer instituições e gerar desconfiança pública, cria terreno fértil para novas investidas autoritárias. Romper com essa herança exige mais do que ações pontuais: é preciso recompor a estrutura institucional, articular maiorias legislativas comprometidas com a proteção socioambiental e disputar a narrativa pública para restabelecer a confiança na ciência e na democracia. Sem esse esforço coordenado, o Brasil seguirá preso a um projeto político que, mesmo fora do Planalto, continua moldando decisões e impedindo avanços urgentes para o futuro do país.

EM ALTA

MAIS NOTÍCIAS!