Brasil registra maior número de feminicídios em quase uma década: mulheres negras são as maiores vítimas

Cenário alarmante

O Brasil registrou, em 2024, 1.492 feminicídios, a maior quantidade em quase uma década. A média é assustadora: quatro mulheres mortas por dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24). O número representa um aumento de 0,7% em relação a 2023 e reforça um quadro persistente de violência de gênero.

Mulheres negras são maioria entre as vítimas de feminicídio

Mulheres negras são maioria entre as vítimas de feminicídio, representando 63,6% dos casos em 2024. Em comparação, as mulheres brancas somaram 35,7%. Os dados revelam uma desigualdade racial marcante e histórica no perfil das vítimas.

Segundo o Censo 2022 do IBGE, 55% das mulheres brasileiras são negras (pretas ou pardas). Ainda assim, elas continuam sendo as maiores vítimas da violência extrema. “Mesmo que a violência de gênero vitimize todas as mulheres, há mais chances de mulheres negras serem vítimas do crime de ódio”, destaca um texto do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Racismo estrutural e falta de dados aprofundam a crise

A pesquisadora Juliana Brandão, do Fórum, ressalta que sem nomear a violência, ela não pode ser enfrentada. “Invisibilizamos a formatação de políticas públicas específicas”, afirma. Ela também denuncia a falta de estatísticas oficiais com recorte racial, o que dificulta a elaboração de ações eficazes.

Além disso, Brandão critica a ausência de padronização nos registros de crimes, como racismo e injúria racial. “Esse quadro se arrasta desde 2018”, diz.

Perfil da violência letal

De acordo com o Anuário, entre os feminicídios com autoria conhecida em 2024, 97% foram cometidos por homens. A maioria das vítimas era jovem, negra e foi morta dentro de casa. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas voltadas ao enfrentamento da violência de gênero com recorte racial e de classe.

Racismo e injúria racial crescem no país

Entre 2023 e 2024, os casos de racismo cresceram 26,3%, saltando de 14.919 para 18.923 registros. Já os casos de injúria racial aumentaram 41,4%, passando de 12.813 para 18.200. Esses números mostram que, embora as vítimas estejam denunciando mais, a violência estrutural ainda é um obstáculo à igualdade.

Medidas protetivas descumpridas

Outro dado alarmante: em 2024, mais de 100 mil medidas protetivas foram descumpridas – alta de 10,8% em relação ao ano anterior. Ao menos 52 mulheres foram mortas mesmo estando sob proteção judicial. O estudo, no entanto, não apresenta recorte racial para esses dados, o que, novamente, invisibiliza o impacto da violência sobre as mulheres negras.

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