Neste 31 de agosto, completam-se nove anos do impeachment de Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o Brasil. O processo, marcado por controvérsias e acusações de “pedaladas fiscais”, é visto por muitos como um golpe parlamentar que remodelou o cenário político nacional. O Brasil de Fato traça um panorama das principais consequências desse período, analisando o impacto nas instituições e o destino dos personagens centrais.
O afastamento de Dilma pavimentou o caminho para mudanças significativas no sistema político brasileiro. O Congresso Nacional ampliou seu poder sobre o orçamento, consolidando o “orçamento secreto” e as emendas impositivas. A Constituição de 1988 também sofreu alterações, com a fragilização de direitos sociais e a implementação de reformas neoliberais, além do crescente debate sobre o semipresidencialismo.
Curiosamente, o impeachment abriu espaço para a ascensão da extrema direita, contrariando as expectativas de seus articuladores. Partidos tradicionais perderam protagonismo, enquanto a Operação Lava Jato, motor do *lawfare* contra o PT, se fragmentou. O campo progressista, por sua vez, resistiu e garantiu o retorno de Lula à Presidência em 2022.
Enquanto isso, Dilma Rousseff se consolidou no cenário internacional, assumindo a presidência do Banco do Brics. Em 2025, foi reconhecida como anistiada política, resgatando sua trajetória e legitimidade. O legado do impeachment se revela complexo e multifacetado, com impactos duradouros na política brasileira.
A herança mais visível do impeachment é o esvaziamento dos poderes da Presidência. A aprovação do orçamento impositivo, ainda em 2015, transferiu o poder de execução de parte do orçamento para o Congresso. Em 2024, as emendas parlamentares alcançaram a marca de R$ 50 bilhões, fortalecendo o Centrão.
O jurista Jorge Folena observa que “a presidência da República ficou esvaziada, para dar curso aos interesses financistas”. Segundo ele, houve uma deliberada transferência de poder para o parlamento, controlado pelas oligarquias do Brasil, em detrimento de políticas sociais e de desenvolvimento.
A cientista política Mayra Goulart complementa que o impeachment abriu caminho para lideranças extremistas de direita. “Esse momento foi turbinado pelo movimento do *lawfare*, com a Lava Jato e a ativação do Judiciário em uma cruzada contra as elites políticas”, resume Goulart.
A Constituição de 1988 também foi profundamente alterada, com a aprovação da PEC do Teto de Gastos em 2016. Essa medida congelou investimentos sociais por 20 anos, somando-se às reformas trabalhista e previdenciária. Outra consequência é o avanço do debate sobre o semipresidencialismo, que esvaziaria ainda mais o cargo de presidente.
Nove anos depois, o destino dos protagonistas do impeachment revela o impacto profundo na cena política. Partidos tradicionais como MDB, PSDB e PFL perderam espaço, dando lugar ao Centrão. A extrema direita ganhou projeção, com Jair Bolsonaro chegando à Presidência.
A Lava Jato, que ajudou a pavimentar o ambiente político para o golpe, também teve sua trajetória marcada por controvérsias. Sergio Moro e Deltan Dallagnol entraram na política, mas enfrentam desgaste e questionamentos sobre sua atuação.
“O golpe é um marco explicativo para entender a polarização. É um processo de reorganização política ainda em curso”, pontua Mayra Goulart. A divisão dentro da direita, entre o bolsonarismo e o lavajatismo, demonstra a complexidade do cenário político atual.
Enquanto isso, Dilma Rousseff ressurge como liderança internacional, à frente do Banco dos Brics. Lula, por sua vez, voltou ao poder em 2022, liderando o campo progressista que sobreviveu aos anos de golpe e extrema direita. O legado do impeachment continua a moldar o Brasil.
O impeachment de Dilma Rousseff foi resultado de um acúmulo de crises políticas, econômicas e midiáticas que se intensificaram após junho de 2013. Manifestações urbanas abriram uma fissura no apoio ao governo, vistas pela direita como “janela de oportunidade para desgastar o PT”. A Operação Lava Jato funcionou como catalisador, com a divulgação de gravações e o uso do *lawfare*.
O PMDB, sob o comando de Eduardo Cunha e Michel Temer, foi peça central da engrenagem do impeachment. Cunha aceitou o pedido de impeachment e conduziu o processo de forma a enfraquecer o governo. Para o jurista Jorge Folena, o impeachment foi “um golpe contra o PT”, já que as elites não conseguiam derrotar Lula e Dilma nas urnas.
A misoginia contra a primeira mulher presidenta do Brasil também foi um elemento central. “Dilma teve uma trajetória marcada pelo fato de ela ser uma mulher, uma mulher que não é esposa de ninguém, nem filha de ninguém, uma mulher guerrilheira”, avalia Goulart.
Após deixar o Planalto, Dilma denunciou o impeachment como um golpe parlamentar. Em 2023, Lula a indicou para a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco dos Brics. “Hoje ela é reconhecida como uma liderança de projeção mundial”, afirma Jorge Folena.
À frente do NDB, Dilma tornou-se voz ativa na defesa de alternativas financeiras para o Sul Global. Sua imagem passou a ser associada à reaproximação do Brasil com organismos internacionais. Em 2025 foi reconduzida ao cargo com apoio dos países-membros, consolidando sua autoridade no cenário internacional.
A Comissão de Anistia reconheceu Dilma como vítima da ditadura militar e aprovou indenização simbólica. O gesto reverteu decisão negativa do governo Bolsonaro e foi lido como reparação histórica.
O artigo lista os destinos de figuras-chave como Eduardo Cunha, Michel Temer, Romero Jucá, Jair Bolsonaro, Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros, ilustrando o impacto do impeachment em suas trajetórias políticas e pessoais. O legado do impeachment de Dilma Rousseff continua a ressoar na política brasileira, moldando o presente e influenciando o futuro.