Proposta busca alterar a composição e o papel de países em desenvolvimento nas decisões multilaterais

Documento chinês para os 80 anos da ONU propõe ampliar a representação do Sul Global e reformar estruturas internacionais.
A China apresentou uma iniciativa para comemorar os 80 anos da Organização das Nações Unidas que pede mais voz e participação de países em desenvolvimento. A proposta ressalta a necessidade de ampliar a representação do Sul Global nas decisões multilaterais, argumentando que a composição atual não reflete o peso econômico e político de mercados emergentes.
O documento identifica três problemas centrais nas instituições internacionais: representação desigual, perda de autoridade e falta de eficácia na execução de agendas como a Agenda 2030. Autoridades chinesas afirmam que as mudanças propostas visam resgatar o papel da ONU como núcleo do sistema internacional e restaurar a confiança em decisões coletivas.
Representação do Sul Global e governança na ONU
A iniciativa chinesa parte da premissa de que os países em desenvolvimento estão subrepresentados nas principais instâncias de decisão. Segundo o texto, isso persiste apesar do crescimento demográfico e econômico de várias economias fora do mundo desenvolvido. Em linhas gerais, a proposta sugere revisões nas regras de representação e na composição de fóruns como o Conselho de Segurança para acomodar melhor esses atores.
O termo Sul Global, usado no documento, refere-se a países em desenvolvimento da África, Ásia, América Latina e Pacífico. Em uma frase, designa na prática Estados com renda média a baixa e poucos assentos permanentes nas instituições multilaterais.
Principais pontos da proposta e compromissos anunciados
- Maior representação: revisão das quotas e mecanismos para dar mais assentos e participação a países do Sul Global em órgãos relevantes — efeito imediato sobre negociações de reforma institucional.
- Defesa da autoridade da ONU: medidas para reforçar o respeito aos princípios da Carta da ONU e à primazia do direito internacional — pretende reduzir contestações a decisões do Conselho de Segurança.
- Eficiência operacional: propostas para acelerar a implementação de agendas internacionais, citando atrasos na Agenda 2030 como exemplo — objetivo de melhorar coordenação técnica e financiamento.
- Compromissos bilaterais e multilaterais: a China se propõe a colaborar com iniciativas de paz e desenvolvimento e a ampliar cooperação sul-sul — intenção de consolidar influência diplomática.
- Diplomacia simbólica: o documento vincula a iniciativa a posicionamentos geopolíticos mais amplos, com referências a discursos oficiais que ressaltam papel da China na ordem internacional.
“lado certo da história”
Impactos para Brasil e outros países em desenvolvimento
- Ajuste em representação — o que muda: eventuais alterações nas cadeiras e nos procedimentos podem abrir espaço para mais delegações do Sul Global. Por que importa: isso pode aumentar a influência de países em desenvolvimento em decisões sobre segurança, desenvolvimento e finanças. Quem é afetado: Brasil, países africanos e asiáticos que buscam maior voz.
- Agenda de desenvolvimento — o que muda: propostas para acelerar metas da Agenda 2030 e reforçar execução. Por que importa: prioridades nacionais podem ser redesenhadas conforme novos consensos multilaterais. Quem é afetado: ministérios de planejamento e entidades que dependem de cooperação internacional.
- Equilíbrio geopolítico — o que muda: maior participação do Sul Global pode diminuir a hegemonia de Estados desenvolvidos em certas votações. Por que importa: decisões sobre sanções, missões de paz e regimes normativos poderiam passar por negociações diferentes. Quem é afetado: governos que atuam em pautas de segurança e comércio.
- Cooperação econômica — o que muda: a proposta prevê instrumentos para facilitar parcerias entre países em desenvolvimento. Por que importa: pode renovar iniciativas de financiamento e investimentos. Quem é afetado: setores público e privado que operam com projetos internacionais.
O que acompanhar a partir de agora na agenda da ONU
Nos próximos meses, será preciso acompanhar calendários de debates, consultas diplomáticas e possíveis propostas formais de emenda a regras de composição das instâncias da ONU. Prazos para consultas regionais, reuniões de chanceleres e eventos relacionados aos 80 anos da organização serão pontos-chave para medir adesões e resistência.
Também vale observar sinais práticos: pedidos de reconsideração de assentos, coalizões regionais promovendo candidaturas conjuntas e o posicionamento de membros permanentes do Conselho de Segurança. Decisões formais exigiriam negociações multilaterais complexas e eventuais votações em assembleias gerais ou conferências específicas.
A proposta chinesa insere-se em um debate amplo sobre legitimidade e eficácia do sistema multilateral. Mesmo que mudanças profundas dependam de consenso político difícil, o documento tende a mobilizar atores do Sul Global e a gerar discussões sobre como tornar instituições multilaterais mais representativas.
Nos próximos ciclos diplomáticos, será relevante monitorar quais países aderem à iniciativa, que mecanismos específicos de reforma são propostos nas reuniões preparatórias e se há contrapropostas de outros blocos. Essas sinalizações indicarão se a agenda será meramente retórica ou se se converterá em alterações institucionais concretas.