Investigação revela a descoberta de obras de arte subtraídas durante a Segunda Guerra Mundial.
Filha e genro de dirigente nazista são acusados de ocultar obras de arte subtraídas durante a guerra.
Herdeiros de empresário nazista enfrentam acusações de ocultação
Patricia Kadgien, de 58 anos, e seu marido, de 60, foram acusados na Argentina de ocultar obras de arte que pertenciam ao sogro dela, Friedrich Kadgien, um dirigente nazista que roubou peças valiosas durante a Segunda Guerra Mundial. A acusação, feita pelo Ministério Público, vem após a recente descoberta de um quadro do século XVIII e 22 gravuras do renomado artista Henri Matisse. As obras foram encontradas em Mar del Plata, a 400 km de Buenos Aires, durante buscas realizadas pela polícia.
A pintura a óleo “Retrato de uma Dama”, de Giuseppe Ghislandi, foi uma das peças roubadas de Jacques Goudstikker, um curador de arte judeu, cuja galeria foi saqueada pelas tropas nazistas. A identificação da obra se deu após um descuido da família Kadgien, que publicou um anúncio imobiliário mostrando o interior de sua casa com o quadro visível. O jornalista holandês Peter Schouten, que investigava o passado de Kadgien, reconheceu a peça e acionou as autoridades, levando à abertura de uma investigação pela polícia federal argentina e pela Interpol.
O que foi descoberto nas buscas
Durante as buscas, a polícia encontrou não apenas a pintura de Ghislandi, mas também 22 gravuras de Matisse, datadas da década de 1940, além de outras obras cuja origem ainda não foi confirmada. A polícia havia realizado buscas na residência da família Kadgien anteriormente, mas a pintura barroca italiana não foi localizada até a entrega feita por Patricia e seu marido. O advogado Carlos Murias, que representa a família, alegou que o crime já teria prescrito, mas a legislação argentina estabelece que crimes relacionados ao genocídio não prescrevem, o que pode complicar a defesa dos acusados.
O contexto histórico do caso
Friedrich Kadgien, conhecido como o ‘mago das finanças’ das SS, fugiu para a Argentina após a Segunda Guerra Mundial, onde viveu até sua morte em 1978. Muitas figuras nazistas buscaram refúgio na América do Sul após o conflito, e a presença de ex-nazistas na Argentina é um tema amplamente discutido na historiografia do período. O caso atual não apenas destaca a persistência de injustiças relacionadas ao Holocausto, mas também levanta questões sobre a restituição de obras de arte roubadas durante a guerra.
“Fiquei louco, é claro”, disse Schouten ao descrever sua reação ao reconhecer a obra no anúncio.
Implicações legais e sociais
O desdobramento deste caso pode ter repercussões significativas tanto para os acusados quanto para a sociedade argentina. A acusação de ocultação de obras de arte roubadas não é apenas uma questão de propriedade, mas também uma questão moral e histórica, tocando em feridas ainda abertas relacionadas ao Holocausto. Se os Kadgien forem considerados culpados, isso pode abrir um precedente para outras investigações sobre a posse de arte roubada por nazistas na Argentina e em outros lugares.
O que observar nos próximos dias
A situação em torno deste caso deve ser acompanhada de perto, especialmente considerando a complexidade das leis que cercam crimes de guerra e genocídio. Com a defesa argumentando que os crimes prescreveram, o resultado deste caso pode influenciar futuras reivindicações de restituição de arte e a forma como a sociedade lida com o legado de figuras nazistas que ainda possuem bens de origem duvidosa. Além disso, a pressão pública e a atenção da mídia poderão desempenhar um papel crucial na condução do processo legal e na percepção social sobre a temática das obras de arte roubadas.