Aumento de preços e tarifas de importação impactam vendas da gigante americana.
As tarifas e o aumento dos preços de tratores impactam a John Deere e o setor agrícola.
A John Deere, uma das principais fabricantes de equipamentos agrícolas do mundo, está passando por um momento desafiador. A empresa, que já foi sinônimo de inovação e qualidade no setor, se vê agora lutando contra o aumento vertiginoso dos preços das máquinas. De acordo com dados da University of Illinois Extension, os preços dos tratores novos tiveram um aumento médio de 60% nos últimos oito anos, levando muitos agricultores a reconsiderar suas opções de compra.
A mudança no perfil dos compradores
Josh Enlow, um comerciante de tratores usados em Tulsa, nos EUA, observou uma mudança significativa em seu público. Agricultores que antes buscavam apenas equipamentos novos agora estão optando por tratores usados, uma estratégia que reflete a realidade econômica atual. “O aumento dos preços dos novos definitivamente levou as pessoas de volta ao mercado de usados”, afirma Enlow.
Impacto das tarifas de importação
As tarifas impostas pela administração Trump sobre aço e alumínio têm sido particularmente prejudiciais. A John Deere já contabiliza um prejuízo de US$ 300 milhões devido a essas tarifas, com a expectativa de que esse número chegue a US$ 600 milhões até o final do ano. Além disso, a empresa registrou uma queda de 29% no lucro líquido no último trimestre, um sinal claro de que as condições econômicas estão se deteriorando.
Desafios do setor agrícola
A demanda por equipamentos agrícolas está intimamente relacionada aos preços das safras. Quando os preços do milho e da soja estão elevados, os agricultores tendem a investir em novos equipamentos, mas com as atuais oscilações de preços, que incluem uma queda de 50% no milho e 40% na soja em relação a 2022, muitos estão optando por consertos ou pela compra de equipamentos usados.
A John Deere prevê que as vendas de grandes máquinas agrícolas, que representam a maior parte de sua receita, devem cair entre 15% e 20% em 2025, com a tendência de baixa se estendendo até 2026. O diretor de relações com investidores, Josh Beal, ressaltou que os clientes estão operando em um ambiente cada vez mais dinâmico, o que está aumentando a cautela nas aquisições.
Impacto das tarifas e da demanda externa
Outro fator que afeta o desempenho da John Deere é a diminuição da demanda externa por algumas culturas. As tarifas retaliatórias impostas pela China sobre a soja, que começaram em março, resultaram em uma queda de 51% nas exportações desse produto neste ano. O Departamento de Agricultura projeta que os produtores americanos receberão US$ 3,4 bilhões a menos em 2023 em comparação ao ano anterior.
Perspectivas futuras
Embora a situação atual seja desafiadora, existem algumas esperanças de recuperação. Analistas acreditam que mudanças nas regras de depreciação fiscal poderão beneficiar os agricultores ao oferecer abatimentos imediatos nas compras de equipamentos, o que pode impulsionar as vendas em 2026. Concorrentes da John Deere, como Kubota e Fendt, que fabricam mais fora dos EUA, também serão impactados pelas tarifas sobre máquinas estrangeiras, o que pode alterar a dinâmica competitiva no setor.
Apesar disso, a incerteza continua a pairar sobre o mercado, deixando os agricultores cautelosos. Questões como a retomada das exportações para a China e novas políticas de subsídios seguem sem respostas claras, o que impede uma recuperação mais robusta.
A John Deere, que foi fundada em 1837 e emprega aproximadamente 30 mil trabalhadores em 60 instalações nos EUA, enfrenta um momento crucial em sua trajetória. Com mais de 75% de suas máquinas montadas localmente, a empresa terá que encontrar maneiras de se adaptar a um mercado em constante mudança e cada vez mais desafiador.