Defesas de Augusto Heleno e Paulo Sérgio deixam ex-presidente ainda mais exposto.
Generais buscam se desvincular de Bolsonaro no julgamento sobre tentativa de golpe em 2022.
No segundo dia de julgamento na 1ª Turma do STF, sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022, ficou evidente que antigos generais de confiança de Jair Bolsonaro estão buscando se desvincular do ex-presidente. A estratégia de defesa, adotada por Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, se caracteriza como uma forma de “fogo amigo” — um termo militar que descreve ataques não intencionais contra aliados. Essa abordagem revela uma disputa pela sobrevivência jurídica entre os envolvidos.
A defesa de Augusto Heleno
A defesa de Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, argumenta que ele se afastou de Bolsonaro durante seu mandato e que não fez parte de qualquer plano golpista. O advogado Mateus Milanez destacou que, apesar de sua relevância anterior, Heleno “perdeu influência” ao longo do tempo, algo que foi corroborado por depoimentos.
Nas alegações finais apresentadas em 13 de agosto, a defesa enfatizou que a presença de Heleno no Planalto diminuiu com o tempo, resultando em uma interação reduzida entre ele e Bolsonaro, conforme apontado por várias testemunhas. Um episódio específico que foi contestado foi a participação de Heleno em uma live com Bolsonaro, onde se discutiu a suposta fraude nas urnas eletrônicas. Para a Polícia Federal, este evento fez parte de uma estratégia de desinformação, enquanto a defesa sustenta que ele se manteve em silêncio, sem endossar as afirmações do presidente.
A defesa de Paulo Sérgio Nogueira
No caso de Paulo Sérgio Nogueira, a ruptura com Bolsonaro é ainda mais evidente. A defesa do ex-ministro da Defesa reforçou a ideia de que Bolsonaro atuou de maneira isolada em seus planos. O advogado apontou que Nogueira tentou dissuadir o ex-presidente de um possível decreto de Estado de Sítio, considerando tal atitude uma “sandice”. Após uma reunião crucial em dezembro de 2022, o general buscou impedir que Bolsonaro tomasse decisões precipitadas e convocou uma nova reunião com os comandantes militares para evitar medidas extremas.
Contraponto da defesa de Bolsonaro
A defesa de Bolsonaro se esforça para desassociá-lo das acusações, alegando que não há provas concretas de sua participação nos planos golpistas. Os advogados sustentam que o ex-presidente foi uma vítima das circunstâncias e que a Procuradoria Geral da República (PGR) não conseguiu estabelecer uma relação direta entre ele e as minutas que foram apresentadas como evidência. O advogado Celso Vilardi afirmou que não existem provas que sustentem a acusação de que Bolsonaro atentou contra o Estado Democrático de Direito.
Um cenário de fogo amigo
Esse embate no STF ilustra um cenário de fogo amigo, onde generais que outrora estiveram no núcleo do governo agora direcionam suas acusações para o líder que antes apoiavam. A percepção de que Bolsonaro é o verdadeiro comandante da suposta organização criminosa parece prevalecer entre os ex-auxiliares, que tentam se defender ao mesmo tempo em que destacam a responsabilidade do ex-presidente.
Consequências do julgamento
A 1ª Turma do STF julga Bolsonaro e mais sete réus pela tentativa de golpe de Estado. O desfecho deste caso poderá ser impactante, com possíveis condenações que, se ocorrerem, deverão ser cumpridas somente após o trânsito em julgado. Bolsonaro, por ser ex-presidente, poderá cumprir a pena em uma sala especial, caso seja condenado.
O julgamento, que poderá se estender até 12 de setembro, marca um capítulo importante na história política brasileira, onde as consequências da tentativa de golpe ainda reverberam.