No dia em que o Brasil comemora sua independência, a maior bandeira que apareceu na Avenida Paulista não foi verde e amarela. Foi estrelada, azul, vermelha, americana. Uma cena tão absurda que parecia montagem de rede social. Só faltou tocar o hino dos Estados Unidos em vez do nacional.
Não é piada: em pleno 7 de setembro, a data da nossa soberania, teve gente desfilando com a bandeira de outro país como se fosse amuleto. E não de qualquer país. Foi justamente dos Estados Unidos, do mesmo Donald Trump que, dias atrás, enfiou um tarifaço goela abaixo do Brasil e deixou produtor, exportador e trabalhador contando prejuízo. É como se, depois do 7×1 no Mineirão, a torcida brasileira tivesse levantado cartazes gritando o nome de Thomas Müller, Miroslav Klose e Toni Kroos.
O mais curioso é que o protesto tinha objetivos claros: pedir anistia, mostrar força, bater no STF. Mas tudo isso sumiu da cena. O que ficou para o Brasil inteiro foi a imagem de um mar de verde e amarelo com uma bandeira estrangeira no centro. O ato queria mostrar patriotismo, mas acabou parecendo súplica. Queria gritar independência, mas soou dependência.
E não adianta dizer que foi homenagem, que é sinal de amizade. Amizade não se mede com tarifa que esmaga o bolso do povo. Amizade não é pedir bênção para resolver problema interno. Amizade não é colocar outro país no pedestal bem no dia em que a gente deveria lembrar que não precisa de tutor. O nome disso não é amizade, é subserviência.
Nas redes, o resultado foi imediato: mais de 60% das menções foram negativas. O eleitor moderado olhou a cena e pensou: “se nem no Dia da Independência conseguem defender o Brasil com a própria bandeira, vão defender quando?”. Governistas agradeceram de bandeja: ganharam munição para falar de soberania, de voto, de instituições. E a oposição, que poderia ter mostrado força, ficou marcada pela imagem que virou meme em todo canto: a bandeira errada, no dia errado.
É claro que a base mais fiel aplaudiu. Para eles, Trump é herói, quase messias. Mas política não se ganha só com fiéis, se ganha com os indecisos, com quem está no meio do caminho. E esse público olhou a cena e torceu o nariz. Porque ninguém gosta de parecer colônia no próprio aniversário de independência.
A pergunta que fica é simples, direta, popular: de que independência estamos falando quando, no 7 de setembro, a bandeira que brilha mais alto não é a nossa? Talvez esse tenha sido o grito mais honesto da Paulista. Não o grito de independência, mas o sussurro de dependência. Uma independência Made in USA.