Inspirada na obra da poeta Conceição Evaristo, a 36ª Bienal de São Paulo abriu suas portas ao público no sábado, 6 de setembro, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera. Com entrada gratuita e exibição até 11 de janeiro, a mostra reúne 125 artistas e coletivos sob o tema “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”. A edição deste ano promete ser a mais longa da história do evento.
A presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Andrea Pinheiro, destaca que a extensão do período expositivo, para abranger as férias escolares, visa ampliar o acesso à arte contemporânea. Nas edições anteriores, a Bienal atraiu mais de 700 mil visitantes, consolidando-se como o maior evento do gênero no Hemisfério Sul. A diversidade de artistas e produtores, somada à gratuidade, são pontos chave para o sucesso da mostra.
Para além do aumento no número de visitantes, a Bienal também busca expandir suas atividades educativas. A meta é atender 100 mil crianças no programa educacional, superando as 70 mil da edição anterior. Além disso, o treinamento de professores da rede pública será ampliado, impactando o aprendizado de mais de 1 milhão de crianças.
A curadoria geral, liderada por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, propõe uma reflexão sobre o conceito de humanidade, inspirada nos versos de Conceição Evaristo. “O poema (…) nos faz questionar essa estrada em que a humanidade está viajando”, explica Ndikung. O objetivo é examinar os caminhos que a sociedade tem trilhado e buscar alternativas para enfrentar os desafios contemporâneos, como a fome, o colonialismo e a violência.
Ndikung se mostra otimista e vê na arte um instrumento de resistência e transformação. “A arte nos dá a possibilidade, a sensibilidade e as ferramentas para reconsiderarmos o mundo no qual vivemos”, afirma. A empatia e a capacidade de compartilhar tanto a dor quanto a alegria do outro são temas centrais da Bienal deste ano, conforme ressaltado pelo curador.
Um dos eixos temáticos da Bienal é a questão dos deslocamentos e fluxos migratórios, inspirada nas migrações das aves. A equipe conceitual buscou artistas de regiões marcadas por rios, mares, desertos e montanhas, cujas histórias se entrelaçam com migração, resistência e convivência. A expografia, assinada por Gisele de Paula e Tiago Guimarães, utiliza a metáfora de um estuário, local de encontro e fertilidade, para representar o espaço da Bienal.
O espaço expositivo foi dividido em seis capítulos, cada um explorando diferentes aspectos da temática central. O primeiro, “Frequências de chegadas e pertencimentos”, convida à reconexão com a natureza por meio de um jardim criado por Precious Okoyomon. Os demais capítulos abordam temas como resistência à desumanização, marcas das migrações, colonialidade, fluxos de cuidado e a beleza como ato de resistência.
A lista de artistas participantes é diversa e inclui nomes que exploram diferentes linguagens, como performance, vídeo, pintura, escultura e música. Muitos propõem investigações baseadas em práticas comunitárias, ecologias e cosmologias não ocidentais. Além das exposições no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, a Bienal também oferece debates, performances e um projeto de realidade aumentada. Mais informações estão disponíveis no site oficial da Bienal.