Análise das relações entre líderes e suas implicações na política internacional.
Análise das relações entre Xi, Putin e Modi mostra fragilidade nas alianças.
Recentemente, imagens de Xi Jinping, Vladimir Putin e Narendra Modi foram amplamente divulgadas, simbolizando uma suposta nova fase nas relações diplomáticas internacionais. Este encontro ocorreu à margem da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai e muitos analistas rapidamente interpretaram o evento como uma demonstração do colapso da diplomacia americana. As imagens transmitem a ideia de que três líderes, tradicionalmente rivais, estariam agora unidos. No entanto, a realidade é bem mais complexa.
Donald Trump, em tom irônico, comentou nas redes sociais sobre a fotografia dos líderes, insinuando que a China teria conquistado a Índia e a Rússia. Embora essa afirmação contenha uma pitada de verdade, ela subestima a complexidade das relações entre esses países. As interações entre Xi Jinping e Vladimir Putin, por exemplo, são marcadas por uma parceria que, apesar de celebrada, é muito mais uma acomodação de conveniência do que uma aliança sólida. A história de rivalidade entre Rússia e China, com conflitos ao longo da fronteira, ainda pesa sobre a relação atual.
A dependência econômica da Rússia em relação à China vem crescendo. Moscou se tornou um fornecedor de commodities, enquanto Pequim se beneficia com a importação de recursos naturais. Essa dinâmica transforma a Rússia em um aliado em condições desiguais, o que gera desconfiança por parte de líderes russos que veem a China como um competidor. Além disso, enquanto a Rússia busca escapar do isolamento, a China expande sua influência na Ásia Central e no Ártico, áreas tradicionalmente dominadas por Moscou.
No caso da Índia, as relações são ainda mais tensas. Após os confrontos em Ladakh em 2020, as feridas entre Nova Déli e Pequim continuam abertas. A Índia vê a influência chinesa no Oceano Índico como uma ameaça direta e, consequentemente, tende a se alinhar mais com os Estados Unidos e o Japão em questões de segurança. Para Modi, as interações com a China são pragmáticas, mas a rivalidade estratégica persiste, fazendo com que a cordialidade das cúpulas não altere a percepção de competição entre os dois países.
Com o Brasil, que ocupa uma posição periférica nesse cenário, a narrativa não é diferente. A China é um importante parceiro comercial, respondendo por um terço das exportações brasileiras, mas a troca é desigual. Brasília, cautelosa, observa com atenção os movimentos de Pequim, especialmente em relação ao Brics.
A China tem conseguido, em meio a essas fricções, projetar uma imagem de unidade entre os três países, mas quem se deixar levar por essa aparência corre o risco de confundir a realidade com um mero teatro político. Os interesses nacionais, que muitas vezes divergem entre eles, prevalecem sobre a imagem de uma frente unida. O que realmente emerge da cúpula de Tianjin é, portanto, uma colcha de retalhos, unida por laços mais frágeis do que as manchetes sugerem. Os líderes podem mudar, mas os interesses permanecem.