O Nepal enfrenta uma crise política e social intensa, a mais grave desde a abolição da monarquia em 2008. Inicialmente desencadeados por restrições a redes sociais, os protestos evoluíram para um levante nacional, impulsionado pela juventude frustrada com a corrupção, o nepotismo e a falta de ação do governo.
A faísca que incendiou a revolta foi um decreto que bloqueou diversas plataformas digitais, incluindo Facebook, X (Twitter), YouTube e TikTok. O governo justificou a medida alegando falta de registro legal, mas a população interpretou como censura direta, especialmente em um contexto de escândalos políticos e falta de transparência.
Analistas e observadores internacionais manifestaram preocupação com a situação. O jornalista Michael Shellenberger, especialista em autoritarismo digital, afirmou que o caso nepalês demonstra como governos usam a regulação como pretexto para censurar e reprimir críticas.
A juventude urbana, apelidada informalmente de “Levantamento da Geração Z”, respondeu prontamente. Utilizando canais de comunicação alternativos e criptografados, milhares de manifestantes tomaram as ruas de Katmandu, exigindo a revogação imediata das restrições digitais.
Os protestos rapidamente se expandiram para reivindicações mais abrangentes, incluindo o fim da corrupção, o afastamento de políticos ligados a clãs familiares e reformas profundas na estrutura de governança. O movimento se destaca por sua natureza descentralizada, horizontal e espontânea.
Ravindra Mishra, cientista político e ex-editor da BBC Nepali, observou que a geração jovem protesta não apenas contra o governo atual, mas contra a falência moral da classe política que domina o Nepal desde a queda da monarquia. A situação expõe uma profunda insatisfação com o sistema.
A resposta do governo foi enérgica, com o uso de tropas de choque, gás lacrimogêneo, balas de borracha e, segundo relatos, até munição real contra os manifestantes. Até o momento, há relatos de mortos e feridos, além da imposição de toque de recolher e o envio das Forças Armadas para as ruas.
Glenn Greenwald criticou a repressão, apontando que a violência estatal no Nepal não gera a mesma indignação que outros casos, mesmo com a defesa da liberdade de expressão e o combate à corrupção sendo pautas centrais dos manifestantes.
Em meio ao caos, manifestantes invadiram prédios do Parlamento, incendiaram parcialmente a sede da Suprema Corte e vandalizaram casas de figuras políticas. Um vídeo amplamente divulgado mostra o Ministro da Economia sendo jogado em um rio da capital, simbolizando a inversão de poder.
O primeiro-ministro K.P. Sharma Oli renunciou ao cargo em meio à pressão popular, mas sua saída não conteve a revolta. Os protestos continuam, com foco na reforma do sistema político e na responsabilização criminal dos responsáveis pela violência.
Bari Weiss, jornalista do Free Press, argumenta que o Nepal está testemunhando o colapso de uma farsa institucional, denunciada não por partidos de oposição, mas por jovens que perderam a fé no sistema. A crise nepalesa se tornou um problema regional, com cancelamento de voos e impactos no turismo, e demonstra a urgência de uma reestruturação profunda no país.