Análise aponta que transformação digital impacta spread bancário no Brasil.
Estudo aponta que fintechs e digitalização reduziram o spread bancário no Brasil.
Fintechs e a redução do custo do crédito
Um estudo recente da consultoria econômica Tendências, encomendado por várias fintechs, revelou que a transformação digital promovida pelo Banco Central do Brasil teve um impacto significativo na redução do custo do crédito no país. A pesquisa, divulgada em 5 de setembro de 2025, intitula-se “Mais Acesso, Menos Juros: A revolução silenciosa do Banco Central do Brasil” e foi patrocinada por instituições como Nubank, PicPay e Wise.
Os dados coletados evidenciam que a agenda digital do Banco Central e o crescimento das fintechs foram fundamentais para a diminuição do spread bancário, que é a diferença entre os juros cobrados pelos bancos e os juros pagos por eles para captar recursos. Eduardo Lopes, presidente da Zetta e diretor de políticas públicas do Nubank, afirma que o estudo visa mostrar evidências concretas da transformação em andamento, ressaltando que ainda há uma concentração significativa no sistema financeiro brasileiro, com 65% dos depósitos concentrados nos cinco maiores bancos.
Impacto da portabilidade de crédito
A pesquisa também destaca a portabilidade de crédito como um fator crucial para a redução das taxas de juros. Dados do Relatório de Economia Bancária do Banco Central mencionam que, em 2022, locais com mais de uma instituição financeira experimentaram uma queda média de 0,8 ponto percentual nas taxas de juros, representando uma redução de aproximadamente 5% no spread médio. Além disso, um estudo anterior de 2019 mostrou que a portabilidade de crédito para consumidores resultou em um spread entre 21% e 49% menor em comparação com o crédito empresarial, que não possui essa opção.
Outro dado importante vem de um estudo recente de 2025, que indica que a portabilidade de crédito aumentou o bem-estar econômico dos brasileiros em 0,2% do consumo anual. Isso significa que a possibilidade de transferir dívidas de um banco para outro permitiu aos consumidores uma capacidade de compra adicional.
Ainda assim, a portabilidade representa apenas 0,8% das concessões mensais de crédito no Brasil, embora essa cifra suba para 12,1% no caso de empréstimos consignados, onde a transferência é mais simples. Otávio Damaso, consultor do Nubank e ex-diretor do Banco Central, observa que esses números refletem um cenário mais otimista para aqueles que já eram bancarizados antes do surgimento das fintechs, pois esses consumidores geralmente apresentam menor risco de crédito.
Desafios e oportunidades no sistema financeiro
Embora o custo do crédito tenha diminuído, o spread bancário no Brasil permanece elevado em comparação a outros países, com uma média de 20,31%, segundo dados de julho do Banco Central. Maílson da Nóbrega, sócio-fundador da Tendências, atribui parte desse alto custo à carga tributária e à taxa básica de juros, que atualmente é de 15% ao ano. Ele argumenta que a tributação sobre transações financeiras no Brasil, que pode representar entre 20% e 30% do spread, precisa ser revista para aumentar a concorrência no setor.
A pesquisa da Tendências ainda menciona um estudo do Banco Central que indica uma redução de 3,7 pontos percentuais nas taxas de crédito pessoal não consignado para clientes registrados no Cadastro Positivo. Para aqueles que melhoraram seu score de crédito, essa redução pode chegar a 8,7 pontos percentuais.
Além disso, a introdução do sistema de pagamentos instantâneos, o Pix, trouxe uma economia significativa para os brasileiros, ao eliminar taxas para transferências pessoais. Esse sistema gerou uma economia estimada em R$ 26 bilhões entre 2021 e 2024, muito superior ao custo de desenvolvimento do Pix, que foi de aproximadamente US$ 4 milhões.
Aumento do acesso a serviços financeiros
O estudo também aponta que a competição entre fintechs contribuiu para a redução das taxas de empréstimo em 2,9 pontos percentuais e a margem líquida de juros em 1,3 ponto percentual. No Brasil, 58% dos clientes de fintechs tiveram acesso a serviços financeiros que antes eram inacessíveis, beneficiando especialmente municípios que não possuem agências bancárias.
De janeiro de 2018 a maio de 2025, o número de usuários ativos no Sistema Financeiro Nacional e no Sistema de Pagamentos Brasileiro mais que dobrou. Nos casos de contas PJ, como as de microempreendedores individuais, o crescimento foi de 312%, totalizando 13,7 milhões de empresas. Para as contas de pessoas físicas, o aumento foi de 114%, atingindo 163 milhões de usuários.
Apesar do progresso das fintechs, algumas instituições menores enfrentam críticas após investigações sobre supostas ligações com o crime organizado. Contudo, as principais fintechs já seguem regulamentações rigorosas semelhantes às dos bancos tradicionais. A Receita Federal também anunciou que todas as fintechs serão sujeitas às mesmas regras que os bancos, com um prazo até 2029 para que todas as instituições operantes, incluindo as de pagamento, obtenham a autorização do Banco Central.
O cenário atual evidencia tanto os avanços quanto os desafios que o setor financeiro brasileiro enfrenta, e a expectativa é de que as fintechs continuem a desempenhar um papel crucial na promoção de uma maior inclusão financeira e na redução do custo do crédito para os consumidores.