Jorge Bodanzky alerta para efeitos do mercúrio na Amazônia em documentário

Cineasta destaca a intoxicação dos rios e a comparação com o desastre de Minamata.

Documentário de Jorge Bodanzky discute os efeitos do mercúrio na Amazônia e a comparação com Minamata.

Jorge Bodanzky e os efeitos do mercúrio na Amazônia

O recente documentário ‘Amazônia, a Nova Minamata?’, dirigido por Jorge Bodanzky, traz à tona os alarmantes efeitos da intoxicação por mercúrio na Amazônia. O cineasta, que há décadas investiga as questões que afetam a floresta e seus habitantes, faz uma comparação crítica com o desastre ocorrido em Minamata, no Japão, onde a contaminação por mercúrio resultou em sérias consequências de saúde pública. Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), Bodanzky utiliza sua obra como um meio de alerta sobre a grave situação que os rios da Amazônia enfrentam devido à exploração descontrolada do garimpo.

Antecedentes do tema: O surgimento do documentário

A ideia para o documentário nasceu durante a produção da série ‘Transamazônica – Uma Estrada para o Passado’, em 2016. Durante uma visita aos indígenas Munduruku no Rio Tocantins, Bodanzky e sua equipe encontraram um médico, Eric Jennings, que relatou uma demanda alarmante por cadeiras de rodas para crianças. Investigando a situação, Jennings suspeitou que a intoxicação por mercúrio poderia ser uma causa, uma hipótese reforçada por comparações com os sintomas observados em Minamata. Essa conexão inspirou a criação do filme, que busca conscientizar o público sobre os perigos invisíveis da contaminação por mercúrio na região.

Efeitos do garimpo e a intoxicação dos rios

Bodanzky observa que a situação do garimpo na Amazônia se agravou significativamente durante o governo Bolsonaro, que incentivou a exploração ilegal. A demanda internacional por ouro levou ao aumento da distribuição do mercúrio, agora nas mãos de traficantes, que veem nesse comércio uma oportunidade de lucro e lavagem de dinheiro. Essa dinâmica não apenas intensifica a contaminação dos rios, mas também cooptou alguns indígenas, que, em busca de alternativas econômicas, acabam apoiando o garimpo em suas comunidades. O cineasta relata um incidente em que o médico Eric Jennings foi atacado ao tentar devolver resultados de exames aos Munduruku, evidenciando a violência que permeia essa realidade.

“Os problemas todos estão aí, e a organização da sociedade civil está evoluindo.”

A luta pela conscientização e ativismo

O filme de Bodanzky é uma tentativa de alertar a população sobre a contaminação invisível provocada pelo mercúrio. Segundo o cineasta, a falta de cheiro e cor do mercúrio torna difícil a compreensão dos riscos envolvidos. Ao traçar um paralelo com o caso de Minamata, o documentário busca despertar a consciência sobre as consequências a longo prazo da contaminação, que podem não ser evidentes imediatamente. Ele destaca que, enquanto os pescadores em Minamata lutaram por 30 anos para restaurar sua baía, a situação na Amazônia é mais complexa, pois a limpeza dos rios parece quase impossível. O papel do documentarista, segundo Bodanzky, é trazer à luz esses problemas e provocar reflexões que possam gerar ativismo e mudanças.

Mudanças no cenário amazônico e a COP 30

Com uma carreira que abrange 50 anos, Bodanzky percebe uma evolução na organização das comunidades amazônicas. Indígenas, quilombolas e ribeirinhos agora se organizam e lutam por seus direitos, embora ainda enfrentem grandes desafios no Congresso. Com a aproximação da COP 30 em Belém, o cineasta expressa otimismo quanto à presença da sociedade civil, que poderá ter um papel crucial nas discussões sobre as políticas ambientais. No entanto, ele também critica a falta de comprometimento por parte de muitos governos, ressaltando que a verdadeira mudança deve vir das vozes da sociedade civil.

A obra de Jorge Bodanzky não apenas denuncia a contaminação por mercúrio, mas também serve como um chamado à ação, enfatizando a importância do ativismo e da conscientização em um momento crítico para a Amazônia e o planeta.

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