Ex-ministro da Previdência afirma que irregularidades eram conhecidas desde 2023.
Ex-ministro da Previdência Social Carlos Lupi reconhece que governo não tinha noção do volume de fraudes no INSS.
Lupi diz que governo acompanhava fraudes no INSS
O ex-ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, afirmou que o governo federal estava ciente de possíveis irregularidades nas aposentadorias desde 2023. Essas informações chegavam ao Ministério por meio de denúncias registradas na ouvidoria e na plataforma Meu INSS. No entanto, durante seu depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, Lupi reconheceu que não tinha noção da magnitude das fraudes que estavam ocorrendo.
“Nunca tivemos a capacidade de dimensionar o tamanho, o volume que esses criminosos fizeram no INSS. Isso só foi possível depois que a Polícia Federal investigou para valer, quando ela não arquivou”, declarou Lupi. O ex-ministro lembrou que, embora a Polícia Federal tenha iniciado investigações em 2016 e 2020 para apurar fraudes na Previdência, ambas foram arquivadas sem que medidas efetivas fossem tomadas.
O que Lupi afirmou sobre as fraudes
Lupi garantiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou conhecimento das irregularidades apenas no dia da operação realizada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) contra os descontos não autorizados em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS. Durante a CPMI, ele também reconheceu que a instrução normativa elaborada pelo INSS em 2024, que tinha como objetivo estabelecer critérios para os descontos de mensalidades associativas nos benefícios previdenciários, não produziu os resultados esperados pelo governo. “Falhamos em ter uma ação mais enérgica do INSS para coibir”, admitiu.
Lupi, que ocupou o cargo de ministro da Previdência entre 2023 e 2025, estava à frente da pasta quando o escândalo de descontos indevidos em aposentadorias e pensões foi descoberto. Ele pediu demissão em maio deste ano, após a operação. O ex-ministro enfatizou que não foi citado nem denunciado nas investigações. “Errar é humano e eu posso ter errado várias vezes, mas má-fé eu nunca tive. Acobertar desvios nunca fiz na minha vida”, afirmou.
Revisão dos descontos nos benefícios
Em seu depoimento, Lupi também defendeu a necessidade de revisar os descontos de créditos consignados nos benefícios de aposentados e pensionistas. Ele questionou: “É importante ir fundo nesse processo de descontos que se faz junto aos aposentados e pensionistas pelo empréstimo consignado. Agora acabaram com o desconto em folha dos associativos, por que não acabar também com os descontos de crédito consignado?”.
Na mesma reunião, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) solicitou a suspensão do senador Rogério Marinho (PL-RN), devido ao seu histórico como secretário Especial da Previdência Social durante o governo de Jair Bolsonaro. Pimenta argumentou que Marinho teria acesso a documentos sigilosos, sendo parte interessada na investigação. Contudo, o pedido foi negado pelo senador Carlos Viana (Podemos-MG), que alegou que Rogério Marinho não é investigado pela CPMI. Pimenta informou que irá recorrer à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Convocações na CPMI
Em reuniões anteriores, a CPMI já aprovou requerimentos para convidar ou convocar todos os ex-ministros da Previdência e ex-presidentes do INSS desde 2015, além de presidentes de entidades associativas acusadas de desvios. Recentemente, foi aprovada a convocação de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e do empresário Maurício Camisotti, que foram apontados pela Polícia Federal como possíveis operadores do esquema de fraudes no INSS.
Em abril deste ano, a Polícia Federal e a CGU deflagraram a Operação Sem Desconto, com o objetivo de combater um esquema de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. Estima-se que as entidades investigadas tenham descontado cerca de R$ 6,3 bilhões de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024. Mais de 4 milhões de beneficiários afirmaram não ter autorizado os débitos em folha. Segundo o governo federal, cerca de 2 milhões de aposentados e pensionistas já aderiram ao acordo de ressarcimento de descontos indevidos de associações e entidades.