Plano da Prefeitura do Rio leva habitação ao centro e gera nicho para Airbnb

Iniciativa visa criar moradias, mas preocupa especialistas com foco em aluguel temporário.

O programa da Prefeitura do Rio para habitação no centro gera oportunidades para investidores em aluguel temporário.

Habitação no centro do Rio e o programa Reviver Centro

O programa Reviver Centro da Prefeitura do Rio de Janeiro visa impulsionar a habitação na área central da cidade. Com foco na venda de micro apartamentos de até 30 metros quadrados, também conhecidos como estúdios, a iniciativa tem atraído investidores que buscam alugar essas unidades em plataformas de estadia de curta duração, como o Airbnb. Essa realidade levanta questões sobre a eficácia do programa em proporcionar moradia acessível, já que o perfil dos compradores está mais inclinado ao investimento do que à residência.

O que é o Reviver Centro e como funciona

Lançado em 2021, o Reviver Centro oferece incentivos fiscais para o mercado imobiliário, promovendo a construção e transformação de edifícios na região. A proposta abrange o conceito de retrofit, permitindo que imóveis antigos sejam reformados para novos usos. Desde sua implementação, o programa já emitiu 57 licenças, incluindo 46 para transformação de uso e 11 para construção, resultando em um total de 5.236 unidades residenciais. No entanto, urbanistas alertam que o projeto pode favorecer a criação de uma “bolha de Airbnb”, desviando o foco do objetivo principal de aumentar a moradia na área.

Crescimento da oferta e preocupações sobre o nicho de Airbnb

Especialistas destacam que, embora haja um aumento na oferta de estúdios, a predominância de investidores pode dificultar a realocação de moradores na região. O metro quadrado é comercializado a uma média de R$ 15 mil, e a demanda por estúdios é vista como uma resposta às necessidades de moradia de uma parte da população. Contudo, a transformação de prédios comerciais em residenciais, como o icônico edifício A Noite, na praça Mauá, ressalta a estratégia voltada para aluguel temporário, gerando um contraste com os esforços de revitalização.

“Perder a praça arborizada será um prejuízo”, afirma Cristóvão Duarte, professor de arquitetura e urbanismo da UFRJ.

Desafios enfrentados pelo Reviver Centro

O Reviver Centro tem enfrentado resistência, como demonstrado pela campanha do deputado Chico Alencar contra a construção de um grande edifício de 720 unidades residenciais na praça Mário Lago. Alencar critica a proposta, argumentando que ela favorece a especulação imobiliária em vez de atender às necessidades de moradia da população. O secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura, Gustavo Guerrante, defende que a oferta de estúdios ainda é insuficiente para causar uma bolha de Airbnb, mas a situação pode mudar nos próximos anos.

A evolução do programa e suas ramificações

Além do Reviver Centro, outras iniciativas, como o Reviver Cultural e o Reviver Rua da Cerveja, foram implementadas para revitalizar a área. O Reviver Cultural busca facilitar a abertura de espaços culturais em imóveis ociosos, enquanto o Reviver Rua da Cerveja visa utilizar imóveis na rua da Carioca para novas cervejarias artesanais. Essas ramificações do programa refletem um esforço mais amplo para promover a ocupação da região central do Rio, mas a eficácia e o impacto dessas ações permanecem sob escrutínio.

Os próximos passos do Reviver Centro e a evolução do mercado imobiliário na região são pontos que merecem monitoramento. A interação entre as políticas públicas e o setor privado será crucial para determinar o futuro da habitação no centro do Rio e se realmente atenderá às necessidades da população ou se resultará em um aumento da especulação imobiliária.

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