Eduardo Bolsonaro é o espelho de uma geração mimada que se tornou adulta. E talvez esteja aí um dos grandes problemas do nosso tempo. A adolescência tardia chegou ao poder. Crianças que cresceram achando que eram especiais, que nunca foram contrariadas, que confundem limites com ofensa pessoal agora usam terno, mandato e passaporte diplomático.
Na boa educação, aquela que não se aprende em gabinete nem se herda por sobrenome, ensina-se que toda ação gera uma reação. E que é preciso ser responsável por ambas. Mas o que se vê é o oposto: um deputado licenciado que age como garoto-propaganda de sanções contra o próprio país, achando que o mundo real é uma extensão da sala de brinquedos da família Bolsonaro.
Quem aplaude Eduardo, no fundo, não admira um parlamentar. Se identifica com um estilo. Um estilo onde os interesses da família vêm sempre antes dos da nação. Onde política se faz com ressentimento, com recalque, com revanche. E quando falo em nação, não me refiro à Brasília blindada ou à Faria Lima refrigerada. Falo do Brasil que sua a camisa. Do produtor rural que não sabe se planta ou estoca. Do comerciante que torce para o dólar baixar. Do assalariado que tenta sobreviver com o que sobra depois do supermercado.
É essa gente, o Brasil real, que vai pagar a conta dos 50% de tarifa que Trump impôs aos nossos produtos. E que Eduardo comemorou como se fosse título de Copa. A conta virá em forma de desemprego, frete parado, exportação travada, cesta básica inflacionada. Enquanto isso, o filho do ex-presidente posta selfie com o chapéu do Tio Sam e finge que está salvando a democracia brasileira do comunismo imaginário que habita sua timeline.
A escalada de Eduardo atingiu outro patamar. Já não se limita a provocações ideológicas ou gestos teatrais. Agora ele ataca diretamente instituições do Estado, ameaça policiais federais, desafia delegados nominalmente e insulta ministros do Supremo como se vivesse num faroeste imaginário onde tudo se resolve no grito. Com o mandato por um fio, parte para o vale-tudo. Tenta intimidar a Polícia Federal, ridiculariza decisões judiciais e desafia as consequências como se fosse intocável. Está cavando o próprio buraco, e a cada frase que dispara, se enterra um pouco mais.
Mesmo entre os seus, a avaliação é que ele falhou no essencial. Transformou o que deveria ser operação de bastidor em espetáculo de autopromoção. Ao se colocar como protagonista das punições impostas a autoridades brasileiras, deu às investigações exatamente o que elas precisavam para caracterizar obstrução, coação e tentativa de chantagem institucional. Em vez de atuar com inteligência política, agiu com vaidade. Em vez de proteger seu campo, expôs todo o tabuleiro. E ainda colheu um efeito colateral que ninguém do seu lado político consegue mais esconder: o tarifaço não atinge o Supremo. Atinge o agronegócio, os exportadores, os aliados. Ou seja, os seus.
Só que o joguinho rendeu provas. A Polícia Federal revelou que Jair Bolsonaro enviou cerca de dois milhões de reais a Eduardo para que ele ficasse nos Estados Unidos articulando pressões externas. A Procuradoria já trata a operação como tentativa de obter anistia em troca de sanções, como se a economia brasileira fosse moeda de barganha para aliviar o CPF do pai.
Eduardo Bolsonaro não está em missão diplomática. Está em missão de sabotagem. Incentivou tarifas que vão sufocar o produtor nacional e, para piorar, sorriu diante disso. Não por cálculo estratégico. Por birra mesmo. Por revanche. Porque ousaram tratá-los como cidadãos comuns perante a lei. E para eles, isso é crime de lesa-majestade.
Não estamos mais diante de um caso de divergência política. Estamos diante de uma prática antinacional, conduzida com método, dinheiro e rede. Um parlamentar brasileiro celebrando sanções impostas por uma potência estrangeira contra seu próprio país é algo que nem os adversários históricos da democracia brasileira ousaram fazer. Mas a atual geração mimada do bolsonarismo faz e ainda pede aplausos.
Eduardo não representa conservadorismo, patriotismo ou qualquer ideologia estruturada. Representa apenas o trauma mal resolvido de quem cresceu ouvindo que era o “03”, mas achava que deveria ser o protagonista. E, sem conseguir brilhar por mérito, resolveu incendiar o palco para que todos o notassem.
O Brasil, infelizmente, virou refém de um roteiro de drama familiar. Um país inteiro sendo arrastado para o fundo por conta da vaidade de um clã que nunca aceitou a ideia de que a democracia impõe limites. E que, ao ser confrontado com a Justiça, reage como criança contrariada. Grita, esperneia, ameaça, intimida.
Chega. O Brasil não pode mais viver em função das neuroses de uma família que se comporta como se o Estado fosse extensão da sala de jantar. O nome disso não é conservadorismo. É parasitismo político.
Quem planta, colhe. E quem planta caos, não pode colher impunidade. O país precisa reaprender a dizer não. A quem usa o sobrenome como escudo. A quem celebra a dor do próprio povo como vitória pessoal. A quem chama chantagem internacional de estratégia.
Crescer, como sociedade, é isso. Entender que ser filho de ex-presidente não é salvo-conduto. E que proteger o Brasil exige mais do que slogan. Exige coragem para parar de tratar traidores como coitadinhos. E idiotas como estadistas.
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