Risco do autoritarismo: de Trump a Bolsonaro, novas distopias na literatura

Como o cenário político atual inspira obras literárias distópicas

A literatura distópica ganha força à luz do autoritarismo contemporâneo.

O cenário atual e a literatura distópica

A literatura distópica se fortalece à medida que o autoritarismo ganha espaço em várias partes do mundo. Obras como ‘A Canção do Profeta’, do irlandês Paul Lynch, refletem essa transformação, abordando temas como a erosão da democracia e a ascensão de regimes autoritários. O livro, que acaba de ser publicado no Brasil, retrata um futuro sombrio onde os direitos civis são desmantelados e a opressão se torna norma, inspirando-se em eventos contemporâneos que marcam a política global.

A obra ‘A Canção do Profeta’

Lynch começou a escrever seu romance em um período de grandes mudanças políticas, quando crises como o Brexit e a eleição de Donald Trump se tornaram evidentes. Ele descreve a sensação de um ponto de não retorno, onde mudanças drásticas moldam a realidade. A narrativa não é apenas uma ficção sobre o passado, mas uma especulação sobre o que pode acontecer. O autor utiliza a ficção para explorar uma Irlanda que, embora hoje pareça distante do que narra, pode facilmente se tornar uma realidade caso a tendência autoritária continue.

“Os seres humanos não respondem emocionalmente a fatos. Respondem a histórias. É assim que funcionamos.”

Outros autores e suas distopias

O cenário literário brasileiro também reflete essa tendência com a publicação de obras que funcionam como alegorias das crises políticas atuais. Autores como Bernardo Kucinski e Natalia Borges Polesso criam narrativas que dialogam com a ascensão de Jair Bolsonaro e os desafios enfrentados pelo Brasil. A jovem cearense Gisele Sousa Santos, por meio do pseudônimo Kinaya, escreveu ‘Eu Conheço Uzomi’, uma distopia que critica o alinhamento do poder político com interesses privados, refletindo suas preocupações com a realidade local.

A importância da distopia na reflexão social

Débora Tavares, especialista em literatura, observa que a distopia serve como uma ferramenta para imaginar futuros possíveis e refletir sobre as fissuras presentes na sociedade. Essa literatura não apenas entretém, mas também provoca uma reflexão crítica sobre o estado atual das coisas. Em tempos de crise, a literatura se torna um espaço para explorar medos coletivos e individualidades, permitindo que os leitores se conectem com as experiências de outros.

O que esperar da literatura distópica

O crescente interesse por narrativas distópicas indica que estamos vivendo um momento fértil para esse gênero. As autoras e autores contemporâneos buscam narrar suas realidades e inquietações, criando um panorama diversificado de vozes e experiências. O reconhecimento de obras como ‘A Canção do Profeta’ pelo prêmio Booker é um indicativo de que a literatura distópica não apenas ressoa com o público, mas também reflete as tensões sociais e políticas do nosso tempo.

A literatura distópica, portanto, não é apenas uma forma de entretenimento, mas uma forma de alerta e reflexão. À medida que a realidade política se torna mais complexa e desafiadora, as histórias que emergem desse contexto têm o potencial de criar empatia e compreensão, ligando as experiências de diferentes indivíduos em um mundo cada vez mais interconectado.

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