UEPG lança manual da ABNT bilíngue em português-guarani e português-kaingang

Uma conquista dos primeiros paranaenses

O manual da ABNT bilíngue em português-guarani e português-kaingang lançado pela UEPG marca um divisor de águas no ensino superior público brasileiro. A publicação inédita é resultado direto da luta e do protagonismo dos povos originários que estudam na instituição. O material está disponível gratuitamente para download no link: http://u.uepg.br/cihe.

A iniciativa responde a uma demanda antiga dos estudantes indígenas e faz parte de um movimento mais amplo de inclusão, diversidade e reconhecimento da pluralidade linguística e cultural do Brasil. Segundo a pesquisadora Daniele Aparecida Mancondes Krueger, uma das idealizadoras do projeto, o manual passou por revisões criteriosas, respeitando tanto as normas atualizadas da ABNT quanto as estruturas linguísticas dos idiomas indígenas.

“É a fala de um povo que está neste continente há mais de cinco mil anos”, reforçou o cacique Wallace Raulino Sampaio, um dos tradutores do material.

A barreira da língua: o português como segundo idioma

Para muitos indígenas, o português é uma segunda língua. Em casa e nas aldeias, a comunicação se dá nos idiomas tradicionais. A chegada à universidade, com seus jargões acadêmicos e textos técnicos, representa um desafio adicional.

“Eu escrevia em guarani ao lado das palavras para entender depois”, relembra Fátima Koya Lucas, enfermeira formada pela UEPG e tradutora do manual. O estudante de Medicina Mateus Claudino compartilha da mesma dificuldade: “Tenho dificuldade com a pronúncia, com a escrita, com os professores…”.

Resistência e identidade

Mais do que um manual, o lançamento representa resistência, visibilidade e reconhecimento. O material também traz fotos, textos e autores indígenas, garantindo um espaço de protagonismo.

O professor Claudinei Alves, com mais de 20 anos de atuação na educação indígena, destaca que o maior desafio foi codificar uma língua marcada pela oralidade. “Foi gratificante. É um sonho trazer para a universidade trabalhos acadêmicos na nossa língua”, declarou.

Manual bilíngue e os desafios da tradução

A tradução não foi simples. Muitas palavras indígenas têm múltiplos significados. Outras não têm correspondência direta em português. Janaína dos Santos, da etnia kaingang, conta que cada termo exigiu um esforço de adaptação. “Para vocês, uma palavra pode ser fácil. Para nós, é muito difícil. Mas conseguimos”, celebra.

Clodoaldo Kronkronh Lucas, educador físico kaingang, tradutor e morador da Terra Indígena de Faxinal, destaca: “É difícil, mas conseguimos concluir. Que esse seja o primeiro de muitos”.

Um marco para a universidade pública

O lançamento ocorreu durante a Semana Nacional dos Museus, com a presença de autoridades acadêmicas, lideranças indígenas, professores e familiares. A pesquisadora Daniele Krueger destacou a formação da primeira banca composta integralmente por autoridades indígenas: “Eles não estão fazendo figuração. São os protagonistas desta criação”.

Em nome da reitoria da UEPG, o professor Rauli Gross ressaltou o compromisso institucional com os povos originários. “Estamos vivendo um marco não só para a Universidade, mas para a cultura brasileira”, afirmou.

Os idiomas indígenas no Brasil

Estima-se que, antes da colonização, havia mais de 1.200 línguas no território que viria a se tornar o Brasil. Hoje, apenas 274 línguas resistem, faladas por 305 povos. O manual da ABNT bilíngue em português-guarani e português-kaingang é um passo concreto na luta pela preservação linguística e cultural dos povos originários.

No Paraná, os idiomas indígenas mais falados são o Guarani Mbya e o Kaingang. A iniciativa da UEPG reforça o direito garantido pela Constituição de 1988 e pela LDB ao ensino e uso dos idiomas indígenas no país.

Subtítulo final: Universidade como território indígena

Alexandre Kuaray de Quadros e Regina Kosi dos Santos, casal indígena de professores e doutorandos, resumem bem o espírito da conquista:

“Para nós, ainda não é o fim da jornada. É o começo. A Universidade vai ser Território Indígena!”

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