Venda de meteorito levanta debate sobre propriedade dos fragmentos que caem na Terra

Discussão sobre a legalidade da exportação de meteoritos e sua propriedade ganha destaque após leilão.

O leilão de um meteorito marciano gera polêmica sobre a quem pertencem os fragmentos que caem na Terra.

Recentemente, um meteorito marciano de 25 quilos, conhecido como NWA 16788, foi leiloado pela Sotheby’s de Nova York por 5,3 milhões de dólares, o que desencadeou uma discussão sobre a propriedade de meteoritos que caem na Terra. O governo nigerino anunciou uma investigação para verificar a legalidade da exportação do meteorito, uma vez que a legislação do país, de 1997, não aborda especificamente a questão dos meteoritos. Essa falta de clareza legal tem gerado incertezas sobre a quem pertencem esses fragmentos espaciais, ressaltando a necessidade de uma regulamentação mais clara.

A legislação em questão

Nos Estados Unidos, a legislação estipula que, se um meteorito cair em propriedade privada, ele passa a ser de quem possui a terra. No entanto, em Níger, a situação é menos definida. A falta de uma norma clara sobre meteoritos permitiu que a Sotheby’s afirmasse que a documentação do leilão estava correta, mas a investigação em andamento levanta questões sobre a propriedade e a comercialização desses objetos. A situação revela não apenas interesses científicos, mas também um mercado comercial em expansão, onde a exclusividade e a raridade dos meteoritos influenciam os preços.

O que faz um meteorito tão valioso?

O NWA 16788 é um dos raros meteoritos marcianos, com apenas cerca de 400 catalogados na Terra. Sua superfície vítrea, resultado da passagem pela atmosfera terrestre, e seu tamanho, 70% maior que o segundo maior fragmento conhecido de Marte, contribuem para seu alto valor. Para cientistas, a importância desses meteoritos reside na informação que podem fornecer sobre a geologia e a formação de Marte. Para colecionadores, o que importa é a exclusividade: ter um pedaço raro de outro planeta é um símbolo de status e prestígio.

A história dos meteoritos no Brasil

O interesse por meteoritos não é novidade no Brasil. Um dos casos mais famosos é o meteorito Bendegó, encontrado em 1784 na Bahia, que pesa 5,3 toneladas e está exposto no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Em 2021, um caso curioso envolveu um lavrador de Pernambuco que, sem saber, manteve uma pedra de 4,5 quilos em sua casa, que posteriormente foi identificada como um raro meteorito marciano e vendido por 800 mil dólares. Essas histórias mostram como a falta de conhecimento e regulamentação pode levar à perda de patrimônio científico.

Propostas para regulamentação no Brasil

A discussão sobre a propriedade de meteoritos no Brasil se intensificou nos últimos anos. Em 2020, duas propostas opostas foram apresentadas no Congresso: uma que tornaria os meteoritos propriedade exclusiva do Estado e outra que os liberaria para o mercado. Nenhuma delas abordou adequadamente a complexidade do assunto. Atualmente, instituições como o Museu Nacional e a Sociedade Brasileira de Geologia estão trabalhando em uma proposta que visa equilibrar os interesses de colecionadores e a preservação científica. Essa proposta sugere que o meteorito encontrado pertença ao descobridor, mas que este deve registrá-lo e doar uma parte a uma instituição de pesquisa.

O debate sobre a propriedade de meteoritos está longe de ser resolvido. A questão vai além do mero comércio: envolve a preservação do patrimônio cultural e científico. É crucial que as autoridades encontrem um caminho que leve em consideração todos os aspectos envolvidos. A solução para essa questão não será simples e requer um esforço conjunto para garantir que os interesses da ciência e da sociedade sejam respeitados.

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